sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Dorme João Dorme

Passavam poucos minutos das três da manhã quando ouvi o estrondo que me deixou em sobressalto. Por momentos, pensei que estivesse a sonhar, porque ouvi um soterrado grito de auxílio, como se me chamassem de uma distância significante…O apelo, que roçou a imperceptibilidade, assemelhava-se ao som do comboio num dia de nevoeiro, abafado: “Alciiides…” – gritou ele. Era real e eu estava acordado.

Assustado, abro a porta do meu quarto e sou surpreendido pelo Gigante Holandês de quase dois metros que habita este condomínio privado, a esticar o seu longo braço num desabrigado gesto de amparo. Sangrava do sobrolho e a imagem era terrível. Volto a pensar que estava a sonhar e pergunto-me: “O que faz este gajo acocorado, às três da manhã, à porta do meu quarto com a cabeça aberta?”
Fomos assaltados e invadiram-nos a casa para nos levarem as loiças da Dinastia de Domingo? Descobriram que temos uma das maiores e mais bem guardadas colecções da filmografia do Van Damme e do Chuck Norris?

Foi então que vi que o Gigante Holandês tinha tido uma macacoa das antigas. No regresso de uma penosa ida ao WC, o pobre Gigante desfaleceu, caiu e abriu o sobrolho…Após alguns segundos recuperou a consciência e num esforço heróico conseguiu arrastar-se até ao meu quarto que fica a 150 cm de distância. É nessa altura que oiço o sumido: ”Alciiides...”

Ainda tenho a imagem da palidez da sua cara que contrastava com o sangue que lhe escorria do sobrolho. Não sei porquê mas faz-me lembrar cornettos de morango…

Chamei a ambulância e fomos prontamente acudidos. O Gigante Holandês foi devidamente socorrido e a ferida estancou.

Importa realçar um pormenor relevante neste relato. O nosso room-mate setubalense, com o barulho do tombo, o barulho que fiz a carregar um gajo com quase o dobro do meu tamanho para a sala que é COLADA ao seu quarto, o barulho dos enfermeiros do INEM, a Banda Filarmónica de Santa Iria da Azóia, a formação de percussão Tocá Rufar e os Tap Dogs…não ouviu rigorosamente nada.

No dia seguinte, apenas perguntou: “O que é que tens aí no olho pá?”

Companheiro, agora que estou de saída não te podes dar ao luxo de ter estas macacoas durante a noite…Tem-nas em pleno dia e com um aviso de dois dias de antecedência, senão jazerás à porta do quarto do nosso amigo setubalense.

"Alciiides..."

2 comentários:

Anónimo disse...

Só tu para me fazeres rir!

Anónimo disse...

Diga-se de passagem que estou muito grato pelo salvamento "heróico" e acrescentar umas notas. Depois de tombar e recuperar a consciência e basicamente acordar o prédio inteiro, com excepção de vossas excelências, apenas passado 10 min é que fui salvo. O sangue no chão serve de prova. Passo a explicar: já estava coagulado.

De qualquer forma fica aqui o meu muito obrigado registado na WWW.