sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Yin - Yááááiiing !!!



A concentração e capacidade de abstracção sempre foram factores que me atraíram nas artes marciais, quando praticava em mais novo era algo que gostava por tanto me permitir ficar absorto de tudo quer ir mais além na resistência e na toleração da dor.

Os gurus acerca dos quais lia na altura atingiam níveis incomparáveis, admirando-os por tais feitos e comprovando que a mente era capaz de mostrar o seu poder sobre a matéria, tal como quebrar pilhas infindáveis de tijolos sobre o ventre, deitar-se sobre lanças de samurai, ou por exemplo andar sobre pedras em brasa a beber saqué.

Nessa altura sabia por cá também haverem grandes gurus, mas a um nível mais contido daquilo que lá fora conhecia, por supostamente por lá estar mais enraizado nas culturas orientais. Até hoje.

Ontem na praia tive daquelas matinas salgadas que fazem com que após a limpeza da alma me sentasse somente a absorver o Sol e o astral ondulante, e foi nesse momento que uma travagem brusca me interrompeu o momento zen.

Saiu do carro um sujeito trajado de negro, no que à primeira vista me pareceu ser uma versão night-star/chuck-norris/macho-man. Desfilou na passadeira de madeira e estacou junto à beira do mar. Voltei ao meu momento zen mas por pouco tempo, pois breves instantes depois num pulo saltou para uma posição de combate/meditação.

Comecei então a observá-lo pela curiosidade e relação supracitada, e enquanto ele seguia um ritual de relaxamento e contracção dos membros fui recordando velhos tempos. Até que, num desses movimentos, ele rodou até conseguir ver-me de soslaio, naquela típica expressão de quem procura confirmar se
está a ser o centro das atenções. Pensei “pronto, afinal tá aqui um Bruce Lee, hehe”. Mal sabia eu que afinal teria uma revelação.

Prontamente começou a desferir socos técnicos, e pontapés mais ou menos bem conseguidos, até que aproveitando mais uma volta olhou novamente de soslaio e fez a “tal” cara. Dá dois passos rápidos, salta num pontapé rotativo, e termina a rotação no ar aterrando com os dois pés certinhos… nos picos dos arbustos que a maré cheia tinha deixado alinhadinhos à beira.

Um agudo “AAAAiii!!!” soou, mas num acto de concentração fantástico olhou rapidamente para mim com uma cara crispada de força (ainda pensei ser de dor), e sentou-se de uma forma meio composta e a exibir controlo, e foi aí que eu aprendi que também por cá a mente é mais forte que a matéria. Não imagino a dor controlada que devia por ali ir no tempo que levou até se sentar como se nada se passasse.

A mim, como humilde observador de tal demonstração, só me restou imediatamente levantar-me e desviando a cara acelerar o passo em direcção ao carro em estado de gargalhada interiormente desmedida.

Agora já posso afirmar que há ninjas em Portugal, ah pois é. E eu sei porque já vi um na Caparica.


PS: A sequência dos karatecas nos Açores não conta, porque além do barrote estar serrado, consta que antes deste quebrar se partiram 5 vértebras do mestre que levou com o barrote nas 4 primeiras tentativas do pupilo.

2 comentários:

Alcides disse...

Há para aí com cada cromo que até dá dó! O curioso é que eles não sabem...

David disse...

…porque se soubessem não eram.

Se calhar este é amigo do Don Ruan da loja?!