Há dias, uma amiga dizia-me “Alcides, fazes tanta falta no Facebook”. Saboreei a frase e pensei: o que quererá isto dizer? Definitivamente um sinal dos tempos.
Não tenho Facebook e quase me sinto um braquiossauro. Uma figura de um tempo assaz longínquo. Houve situações em que causei reacções de extrema admiração/indignação pelo facto de não ser membro dessa rede social. Reacções de maior estupefacção do que quando digo que não tenho a carta de condução. Houve inclusivamente um caso em que não me deixaram entrar numa festa por não ter Facebook (!!)
Não ter Facebook (e para piorar não ter carta de condução) poderia perfeitamente ser um caso que facilmente poderia originar uma depressão, um esgotamento e consequente suicídio. Mas não, aguento essa pressão da sociedade e vou seguindo diariamente, continuando a parecer um animal exótico.
A falsa sensação de termos “amigos”, o isolamento de quem passa horas (sozinho) em frente a um computador transmite a inexacta impressão de que estamos rodeados desses mesmos amigos.
Tal como Bartleby de Melville, simplesmente "prefiro não o fazer!" Não quero ter Facebook. Será que o facto de ter blog não é incompatível com aquilo que digo? Talvez….Mas lamentavelmente (e também actualmente) o impacto de palavras é substancialmente inferior que o impacto de uma foto.
O tempo é demasiado importante e as experiência online não substituem as nossas experiências da vida real, a nossa verdadeira interacção com pessoas que conhecemos, com quem convivemos e a quem podemos realmente chamar de amigos, os jantares, a quantidade inesgotável de (bom) “lixo” que se fala à mesa, as histórias, são coisas que o Facebook não tem nem pode proporcionar.
Não sou um fundamentalista daqueles que acha que o Facebook é a Caixa de Pandora escancarada…apenas não quero ter. No entanto, deixo uma sugestão a quem quiser sair…
Quanto à carta de condução…bem esse é outro assunto que dá um outro texto.
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
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10 comentários:
Muito bom!
Mas admito: EU tenho Facebook e gosto!
Agora fico à espera da reflexão sobre a carta de condução... (para poder imprimir e mostar a quem me aborrece com esse assunto!)
Biju
Li (outra ave sem carta de condução)
Eu também não tenho Facebook! E não faço lá falta nenhuma.
Já pensei em criar um site para permitir o registo de quem não tem Facebook. Os (três) utilizadores só têm que cumprir duas regras:
1 - Nunca usar o site para comunicar;
2 - Não faltar ao jantar mensal.
Tal como tu, não tenho uma opinião avassaladora acerca do Facebook. Os perfis dos utilizadores do Facebook são diversos.
Mas há um perfil onde encaixa a maioria! A Courrier Internacional de Janeiro de 2011 tem um artigo sobre Tao Lin que explica bem o estado da geração Facebook.
Há muita coisa que só se sente e percebe no contacto directo (direto). A entoação, as expressões faciais... isso não se percebe no Facebook!
(Apesar de não poder entrar, posso criar um site para os (eventualmente também três) que não têm carta de condução)
Temos apenas um lugar disponivel..a minha vaga e a tua estão preenchidas..Hj disseram-me que estou "socialmente morto!"..por não ter Facebook...Prontch..é um ponto de vista..
Sem Facebook estás, no pior dos casos, virtualmente morto!
Mas na realidade, estás socialmente bem vivo!
Julgo que poucos terão a saúde social que tens, rodeada de VERDADEIROS e REAIS amigos, daqueles que partilham jantares, fins-de-semana, férias, copos, parvoíce, ócio entre muitas outras coisas.
Respeito a decisão de quem não quer sucumbir à era pós-moderna da civilização e que não quer ter Facebook. A minha melhor amiga não tem e continuamos amigas.
Quanto à mais-que-batida-questão de "quem tem facebook é um ser-humano-pouco-social e dá mais valor à vida virtual do que à vida real" já acho uma bela fantochada. Não creio que sejam em nenhuma forma incompatíveis.
Conheço pouca gente com uma vida social mais activa do que eu: férias, viagens, jantares, lanches, brunch, passeios, corridas com amigos, etc...e tenho Facebook, mesmo assim, que uso maioritariamente para provocar. Para partilhar opiniões e ouvir a dos outros.
O Facebook acabou por se tornar o meu jornal diário: antes de abrir qualquer site noticioso ou antes de comprar o jornal, consigo em 1 minuto saber o que aconteceu no país e no mundo, na hora em que essas notícias são publicadas: que o Saramago morreu, que o Scorsese finalmente ganhou o Óscar, que o Murabak saiu do poder, que o Cavaco ganhou as eleições e muito mais.
Tal como tudo, é importante usar as coisas com peso e medida.
P.S.: Não tenho carta também, mas começo a sentir-me um bocadito bicho-do-mato com isso.
Obviamente que é compatível usar o Facebook e ser verdadeiramente sociável. Existem vários perfis de utilizadores, como referi no meu primeiro comentário.
O perigo do Facebook não está para
quem já tem verdadeiros amigos. Para esses é complementar. O perigo está para quem não os tem e pensa que é ali que os vai encontrar. Julgam ter muitos amigos, mas no fundo sentem uma profunda solidão. E há toda uma geração a caminhar para aí.
O que digo vai mais no sentido da linha de pensamento daquilo que o David diz...Mais um exemplo de que uma expressão que me arrepiou: "Esbarrei-me com ela no Facebook". Pode?
Ok David e Alcides, compreendi melhor o vosso ponto de vista agora.
Tenho Facebook há 6 anos e só muito recentemente uma situação me causou arrepios. Medo, quase. Passo a contar.
Passou-se com um casal conhecido. Estamos a falar de pessoas de 28 anos. Casados há um ano, muita felicidade e muito amor. Soube, praticamente em tempo real (no mesmo dia) através de amigos no Facebook, que a rapariga faleceu numa sexta-feira em Dezembro.
Recentemente, vi que o perfil dela continua a ser actualizado pelo viúvo. Diariamente muda a foto do perfil dela e as pessoas continuam a deixar mensagens do tipo "sentimos a tua falta...".
O que me deixou sem fala foi quando espreitei o perfil dele e vi os status e comentários dele nos dias que antecederam a morte da rapariga. Começava por dizer que ela tinha pneumonia aos amigos. Depois dizia que não havia meio de melhorar. Depois dizia que estava melhor e que tinha sido um susto. Depois só se viam mensagens de condolências.
No dia em que vi este diário pré-morte da rapariga, fiquei assustada com aquilo. Eu, no seu lugar, teria apagado aquele relato todo do estado de saúde dela. Teria também apagado o perfil dela.
Horrível.
P.S.: ando há dias para contar isto no meu blogue, mas não tenho coragem.
Essa é uma história completamente....vou procurar o adjectivo e dentro de alguns dias termino a frase...
Eu também não tenho Facebook porque entendo que não me faz falta e não me apetece tê-lo apenas porque é moda. No entanto, também tenho de enfrentar o espanto dos outros, que me olham como se fosse uma info-excluída ou se tivesse a mania de me armar em exótica :)
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